Peixe Grande
Rafael Oliveira
| 24-12-2024
· Equipe de Entretenimento
Peixe Grande: Um conto de histórias e verdade
Do ponto de vista do filho de Edward Bloom, o momento das histórias de seu pai é frustrantemente impreciso.
Nos anos que antecederam o nascimento de seu filho, Edward viveu aventuras emocionantes e conheceu personagens inesquecíveis. Depois que seu filho nasceu, ele contou essas histórias repetidamente, até o ponto em que os ouvintes começavam a sentir os olhos se fechando, como uma história em quadrinhos que deu errado.
Apesar disso, alguns acham Edward encantador, incluindo sua esposa, Sandra (interpretada por Jessica Lange). Quando Edward se aproxima do fim de sua vida, Sandra chama o filho deles, Will (Billy Crudup), que já está cansado das intermináveis histórias do pai. Jornalista em Paris, Will já ouviu essas histórias incontáveis vezes e agora busca a verdade por trás delas.
Dirigido por Tim Burton, o filme se aprofunda em flashbacks com o Jovem Edward (Ewan McGregor) e a Jovem Sandra (Alison Lohman), mostrando as aventuras que o Edward mais velho conta. Essas memórias incluem uma bruxa (Helena Bonham Carter) com um olho de vidro que prevê a morte, e um circo dirigido por Amos Calloway (Danny DeVito), onde Edward faz amizade com Karl, o Gigante (Matthew McGrory).
Um momento memorável ocorre quando Edward, encantado por Sandra sob a lona do circo, percebe que ela é a parceira que estava destinado a encontrar. Outras aventuras, como uma envolvendo um bagre do tamanho de um tubarão, acrescentam o charme fantasioso do filme. Porém, o conto mais absurdo é quando Edward salta de paraquedas em um show de talentos do Exército Vermelho na China, encontrando uma dupla vocal unida. Se essas histórias são invenções fantasiosas ou não, fica a cargo dos espectadores decidirem, ecoando a ideia de que a crença pode validar a realidade.
O estilo visual característico de Burton torna "Peixe Grande" visualmente deslumbrante, frequentemente descrito como "Burtonesco". No entanto, a frustração de Will com as histórias incessantes de seu pai é justificada; chega um momento em que o entretenimento se transforma em uma forma de final ruim. Embora a concisão possa melhorar a narrativa, o velho Edward parece fazer parte de um grupo de contadores lentos, que estendem suas histórias por tempo demais.
Curiosamente, outro filme, "As invasões bárbaras" de Denys Arcand, tem uma premissa semelhante: um homem moribundo relembra memórias de sua juventude enquanto seus entes queridos se reúnem ao seu lado. O filho, cansado das histórias do pai, deseja a honestidade. Ambos os filmes exploram o significado das lendas em nossas vidas, refletindo como as narrativas moldam nosso entendimento da existência.
A diferença está nos tons: o filme de Arcand oferece uma comédia humana comovente, enquanto o de Burton é marcado pelo espetáculo extravagante. Arcand usa o passado para aprofundar a exploração dos personagens, enquanto Burton muitas vezes prioriza a fantasia visual em detrimento da profundidade emocional. O filme apresenta cenários encantadores, como a vila de Spectre, com suas ruas pavimentadas de grama e criaturas fantásticas, mas pode-se questionar se o foco de Burton nos visuais não tira o foco da narrativa central.
De certa forma, tanto Burton quanto Edward Bloom reciclam seus talentos, aguardando que um propósito mais profundo surja. Quando Burton ancora sua criatividade em uma história sólida, ele brilha ("Ed Wood", "A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça"). Sem essa base, sua habilidade visual pode parecer um desenho elaborado, sem o peso narrativo que dá a ela um verdadeiro significado.